Não faz muito tempo que os drones começaram a aparecer para o consumidor que não é profissional, seja para ver se o telhado está com todas as telhas após um vendaval ou até mesmo para registrar as férias de um ângulo diferente. Polêmicas com regulamentação e direitos à parte, as pequenas aeronaves com asa fixa, ou não, também estão ajudando na hora de combater o coronavírus.
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Asa fixa?
Antes de mais nada, vamos filtrar o termo de asa. Existem basicamente dois tipos de drones no mundo, sendo o primeiro e mais popular chamado de multirotor, que é aquela aeronave que mais parece um helicóptero com quatro conjuntos de hélices. Já o segundo, menos comum no mercado, é o de asa fixa e ele tem a cara de um avião.
Assim como acontece na aviação, cada tipo de drone tem suas vantagens e desvantagens. Enquanto os multirotores podem parar no ar e decolam de um ponto fixo, na vertical, os modelos de asa fixa são lançados ou precisam de uma pista de decolagem. A vantagem das asas fixas é que estes drones podem seguir por mais tempo, já que as asas garantem maior sustentação no ar e isso faz o consumo da bateria cair, com alguns modelos passando de duas horas de autonomia.
Quer um exemplo de enorme autonomia em asa fixa? O Global Hawk é um drone de asa fixa criado pela Northrop Grumman, que utiliza um motor turbofan Rolls-Royce e que tem autonomia de 22.780 quilômetros, em velocidade máxima de 629 km/h e que é o suficiente para dar mais do que meia volta na Terra sem parar para reabastecer – este não é movido por baterias.
Eles também são capazes de cobrir distâncias maiores nos modelos para o povo mesmo, enquanto que o multirotor cobre uma área menor, que pode ter mais obstáculos e a navegação em ambientes internos já é possível quase sem problemas.
Ok, o que vai neles além das câmeras?
Ambos os modelos podem sair do chão com alguma carga e ela pode ser muito maior do que apenas uma câmera, junto da bateria e sensores que são necessários para comandos remotos com algum auxílio. O MG-1P da DJI, por exemplo, é um multirotor que utiliza oito motores e consegue levantar com um tanque com capacidade para 10 litros de qualquer coisa que você quiser, respeitando o peso de 10 quilos de carga máxima.
Ele foi projetado para ser utilizado na agricultura e oferece três quilômetros de alcance para as câmeras de alta resolução, com um controle que pode operar até cinco aeronaves ao mesmo tempo. Sem o retorno em vídeo, todos os drones podem ser controlados visualmente por até cinco quilômetros.
Uso durante a pandemia
Foi exatamente este tipo de drone, um multirotor com tanque acoplado ao corpo, que vem sendo utilizado de forma mais direta no combate ao coronavírus, causador da COVID-19. Iniciativas que acontecem em cidades como Ampére (PR) e Porto Alegre (RS).
Por lá, usuários de uma plataforma que reúne operadores de drones de pulverização de lavouras, chamada VOA, utilizam uma solução de desinfetantes com base água, cloro ou cloreto de benzalcônio e que são pulverizados em áreas públicas da cidade, como praças e ruas.
O alcance da pulverização é de 20 hectares, ou 200 mil metros quadrados. A mesma VOA, em parceria com a Farma Conde, está operando 16 aeronaves em São José dos Campos (SP), três em Osasco (SP) e utilizou quatro de suas aeronaves para desinfetar a Arena Corinthians e 500 km de ruas e espaços públicos do entorno do estádio, enquanto que a Secretaria de Serviços Urbanos de Cuiabá (MT) utiliza três destes drones para a mesma função.
Em Porto Alegre (RS) o produto utilizado é bastante semelhante e foi produzido pelo Instituto de Química da UFRGS. Na capital gaúcha os alvos da pulverização são pontos de ônibus, locais de grande circulação e áreas de difícil acesso.
Em Paraisópolis, maior comunidade do estado de São Paulo (SP), oito drones também estão fazendo a pulverização de desinfetantes com base em cloro para limpar vielas e áreas onde os outros meios de espalhar o produto não conseguem chegar com facilidade. Outras soluções com o mesmo tipo de drone estão em uso em uma área de 400 quilômetros nas cidades paulistas de Caraguatatuba, São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba.
O composto do spray ajuda, mas não sozinho
Em um papo com o Tecnoblog, Gilberto Martin Berguio, médico sanitarista e professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), diz que “qualquer medida que a gente consiga fazer, é sempre positiva”. “O composto ajuda na higienização, como produto que ajuda na diluição da membrana lipídica e que pode matar o vírus”, afirma Berguio.
Para ele, a ação é bastante positiva por alcançar áreas onde a higienização tradicional tem dificuldades de chegar, mas não elimina a necessidade de limpeza com água e sabão. Além disso, o médico alerta para o risco de que a ação diminua a precaução que as pessoas precisam ter.
“Nem mesmo só o uso da máscara pode controlar a doença. Higienizar os ambientes, desde água e sabão no chão, álcool 70 nas mesas, todas essas medidas se somam. Medidas mais visíveis [como os drones] podem fazer as pessoas relaxarem as outras como máscara, água e sabão nas mãos, um metro e meio de distância entre cada uma e só sair quando necessário”.
O cloro ainda pode causar problemas como alergia em algumas pessoas, indo até para um quadro de intoxicação – dependendo da diluição que é feita. É complemento, assim como álcool gel é para a água e sabão. “Tem que fazer parte do combo, não pode ser sozinho”
“Um efeito complexo pode ter solução menor do que o mais simples. Ainda não existe um produto que você passe no ambiente e daqui duas ou três horas esteja livre,” conclui o médico.
Olhos e alertas dos céus
Em Palmas (TO) a polícia militar escolheu outro tipo de uso e que vai mais para a vigilância do que a pulverização. Um drone da linha Mavic sobrevoa áreas da cidade para observar o comportamento dos cidadãos em locais de grande aglomeração. A ideia é de oferecer apoio visual para as tropas no chão.
Utinga (BA) e João Pessoa (PB) seguem o mesmo exemplo e passaram a adotar um drone que fiscaliza o cumprimento do distanciamento social de seus moradores. Recife (PE) utiliza três Mavic 2 Enterprise Dual equipados com uma câmera infravermelho para monitorar a temperatura das pessoas em áreas de grande circulação, com ajuda de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco e do Instituto para Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco. Pessoas com temperatura de 38 graus ou mais, são monitoradas. Todos estes drones de Recife também utilizam alto-falantes para falar com quem não respeita o distanciamento social. Estratégia semelhante a da Prefeitura de São Sebastião, no litoral paulista.
Um exemplo que ficou famoso foi o do Rio de Janeiro (RJ), onde a Prefeitura da cidade vem utilizando o mesmo modelo de drone, só que sem a câmera infravermelho e que tem o trabalho de lembrar as pessoas que elas deveriam estar em casa, além de lembrar que o uso da máscara dificulta o contágio. A estratégia carioca também é utilizada em Praia Grande, no litoral de São Paulo.
Asa fixa tem outro potencial
Já que a vigilância e a desinfecção são mais utilizados, os drones de asa fixa ganham menor importância, mas ainda podem aparecer aqui e ali. Antônio Pedro Timoszczuk, membro do Instituto de Engenheiros Eletrônicos e Eletricistas (IEEE), lembra que este tipo de aeronave já foi utilizada em 2019 pela empresa americana Zipline para entrega de exames de sangue em Gana.
“Estes drones entregaram sangue e outros materiais em áreas rurais da Gana em poucos minutos”, explica Timoszczuk em entrevista ao Tecnoblog. A grande autonomia e raio de atuação ajudam neste momento, já que fazer a mesma entrega de carro levaria horas, além de envolver mais pessoas em uma ação que transporta material de risco biológico.
A Zipline já está no ramo logístico com drones de asa fixa desde 2016 e já trabalhava com contratos com hospitais, mas agora o número de chamados aumentou e a carga também, indo desde o exame de sangue, passando por vacinas e até suprimentos médicos que são entregues em áreas mais remotas.
Mesmo que caminhando para o começo do fim da quarentena (ainda vai demorar, vai por mim), fica claro que os drones podem ser mais aliados e úteis do que apenas em uma lavoura mais conectada ou com olhos curiosos lá do céu. O uso dos multirotores é mais prático e deve continuar assim com modelos cada vez com maior autonomia e capacidade de carga, principalmente por seu tamanho mais compacto do que os modelos de asa fixa.
Por fim, fica uma dica bem transmitida por Gilberto Martin Berguio: o drone lá por cima espirrando algum composto que desinfeta o local não torna a área mais segura ao ponto de poder relaxar os cuidados pessoais, ok? Máscara no rosto (não no pescoço, no bolso e muito menos pendurada na orelha), mãos limpas e distanciamento entre as pessoas ainda são mais importantes.
A mão dos drones no combate ao coronavírus
Fonte: https://tecnoblog.net/351460/a-mao-dos-drones-no-combate-ao-coronavirus/
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