Moto G7 Play: o mais barato finalmente está bom o bastante

No início, era apenas um Moto G. O consumidor encontrava nas prateleiras algumas variações do modelo original, mas com diferenças circunstanciais — fora a memória principal, suporte a um ou dois chips e acessórios, era o mesmo Moto G. Quase sete anos depois, a família campeã de vendas da Motorola se desdobrou em quatro aparelhos que se diferem muito entre eles — nos “sobrenomes”, nos componentes e no visual. Curiosamente, talvez esta geração tenha o modelo de entrada, aquele baratinho, mais interessante de todos.

A grata novidade do Moto G7 Play, o modelo mais simples dos quatro Moto G7 que a Motorola lançou no Brasil em 2019, é que ele vem com o mesmo chip principal dos outros dois imediatamente mais caros, um Snapdragon 632. (O Moto G7 Plus vem com um Snapdragon 636.) Uma máxima do Manual do Usuário é tentar enxergar os gadgets além das especificações técnicas, aquela sopa de números e letras muitas vezes ininteligível. Ela continua valendo, mas em alguma medida os números importam. Afinal, a experiência é o resultado de um conjunto de fatores — a velocidade de processamento entre eles. Da mesma maneira que um processador um pouco antigo não é motivo para descartar um aparelho como o Motorola One, ter um mais potente em um celular barato como o Moto G7 Play chama a atenção.

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Para colocar essa mudança em perspectiva, vejamos as gerações anteriores da família. O Moto G6 Play saía de fábrica com um Snapdragon 430; o Moto G6, com um Snapdragon 450. A proximidade dos números esconde uma verdade inconveniente: em testes de desempenho sintéticos como o Geekbench 4, o 450 chega a ser quase duas vezes mais rápido que o 430 em aplicações que fazem uso de dois ou mais núcleos do processador. A disparidade também existia no primeiro “Play”, no Moto G4 de 2016. (O Moto G5 não teve uma variante “Play”.)

Lançado por R$ 1 mil, não demorou para a tradicional queda de preços dos celulares Android atingir o Moto G7 Play. Já é relativamente comum encontrá-lo por menos de R$ 800, um desconto de mais de 20%. Em uma dessas, meus pais, que vinham sofrendo com dois bravos celulares da Asus com quase quatro anos de serviços prestados, resolveram trocá-los pelo novo baratinho da Motorola. Este texto se baseia na primeira semana de uso deles, que pude acompanhar de perto, e em alguns breves momentos em que eu mexi nos aparelhos.

Da tela à câmera, um celular equilibrado

Convenhamos: R$ 800 não é mixaria. Mas se considerarmos a inflação do período de novembro de 2013, quando o Moto G original foi lançado por R$ 649, a abril de 2019, quando já se podia comprar o Moto G7 Play com 20% de desconto, o último é mais barato — os 38,5% de inflação acumulada corrigem o preço sugerido do Moto G original para R$ 898.

O barateamento de componentes e a evolução natural de um setor que passou boa parte desse intervalo em crescimento acelerado se refletem no Moto G7 Play. Embora simples, é um celular bonito e que passa uma boa impressão, a despeito do uso de materiais menos nobres como o plástico. A tela é enorme, com 5,7 polegadas, mas graças ao aproveitamento de espaço frontal oriundo do entalhe no topo e de bordas diminutas, ele é fisicamente menor que o Moto G4, por exemplo, que tinha uma tela de 5,5 polegadas. É para isso que o entalhe serve, afinal.

Entalhe na tela do Moto G7 Play.
Foto: Rodrigo Ghedin/Manual do Usuário.

A qualidade da tela me pareceu bem ok. O Moto G7 Play usa um painel LCD com resolução de 720 x 1512 pixels. Feitas as contas, o usuário (não) vê cerca de 294 pixels por polegada. Alguém apegado a números dirá que isso é pouco — um Galaxy S10 abunda ~550 pixels no mesmo espaço —, mas seus olhos não conseguirão distinguir os pixels em qualquer das telas. As demais características da do Moto G7 Play seguem o pragmatismo da definição: nada de ponta, mas boas o bastante para que eventuais desvantagens técnicas em relação a outros modelos só sejam percebidas para alguém aficionado e/ou em comparações diretas, lado a lado.

Quando anunciado, a Motorola foi criticada por sites especializados por ter colocado “apenas” 2 GB de RAM no Moto G7 Play. É pouco? Comparado a outros celulares, sim. Porém nem de longe essa quantidade faz dele um aparelho natimorto. Você terá problemas se quiser rodar aplicações em realidade aumentada como Pokémon Go, jogos com gráficos elaborados ou alternar freneticamente entre apps de redes sociais. Para um uso comedido, ou para quem não fica o dia inteiro pendurado no celular, pareceu-me satisfatório. Não notei lentidões mesmo após instalar todos os apps que meus pais costumam usar e restaurar seus backups; eles tampouco reclamaram de problemas. Desempenho não se mensura apenas pela RAM, mas também pelo chipset usado. E, aqui, o já citado Snapdragon 632 faz diferença.

O único risco real aqui é essa configuração envelhecer mal. É histórica a degradação de desempenho que aparelhos Android sofrem, um problema do qual iPhones sofrem bem menos — exceto na vez em que a Apple impôs aquele limitador arbitrário a fim de proteger a bateria. Exemplificando: um iPhone 6s de 2015 ainda roda relativamente bem e recebe atualizações do iOS. Um Galaxy S6 da mesma época? Boa sorte. É muito raro um celular novo, seja de qual preço for, ser muito ruim. Com o tempo, ele passa a dar sinais de cansaço e é isso o que distingue boas compras de uma cilada. Uma semana ou mesmo um mês é pouco tempo para se chegar a uma conclusão. De qualquer maneira, à primeira vista o Moto G7 Play, apesar de um aparelho de entrada e dos 2 GB de RAM, não deixa a desejar.

A bateria do Moto G7 Play tem 3.000 mAh, valor que já é quase padrão/mínimo em celulares Android. Para o uso esporádico que meus pais fazem, ela está impressionando, a ponto de ser merecedora de elogios unânimes:

Prints das telas de bateria dos Moto G7 Play dos meus pais, com cerca de 50% e mais de um dia de duração restante.
Desempenho da bateria nos celulares do meu pai (esquerda) e mãe.

Outro número que cresceu a ponto de tornar o uso de aparelhos de entrada menos sofrido foi o da memória de armazenamento. Com 32 GB, é possível passar alguns meses, anos ou até mesmo jamais se preocupar com espaço — especialmente se o backup de fotos no Google Fotos ou outro provedor generoso estiver ativado. Acabou o espaço? Na bandeja cabe um cartão microSD de até 1 TB, que, aliás, não ocupa o espaço que seria de um dos dois SIM cards que o celular suporta.

Produtos de entrada costumam comprometer alguns recursos a fim de manter o preço mais baixo. Para um negócio abaixo dos R$ 1 mil, o conjunto do Moto G7 Play é bastante completo: todos os sensores de movimentos mais comuns estão ali, o padrão do carregador é USB-C e a tela é protegida pelo revestimento Gorilla Glass 3. São poucas as áreas em que a economia se faz sentir. O acabamento é uma delas: em plástico, ainda que um do tipo que não aparenta ser excessivamente frágil. Ele também não contém NFC, útil para soluções de pagamento por aproximação como o Google Pay. E a câmera.

Detalhe da câmera do Moto G7 Play.
Foto: Rodrigo Ghedin/Manual do Usuário.

A câmera não é ruim, só não é tão boa quanto a dos demais Moto G7 e celulares mais caros de outras fabricantes. Vale aquela regra básica da fotografia: com muita luz, como em dias ensolarados, a câmera até que se sai bem. As fotos contêm bom detalhamento e o HDR (automático por padrão), embora visivelmente inferior ao de celulares mais caros, ameniza sensivelmente clarões e regiões sombreadas com boa frequência. À noite ou em locais fechados e mal iluminados, você até verá alguma coisa nas fotos tiradas, mas essa coisa provavelmente não ficará muito definida e terá bastante ruído na frente.

Os modos especiais da câmera do Moto G7 Play tentam replicar soluções que mesmo em celulares mais caros nem sempre funcionam a contento. Em especial, o “modo retrato”, que desfoca artificialmente o segundo plano em retratos. Com alguma boa vontade, os resultados eventualmente são satisfatórios, mas não consegui fazer uma foto capaz de enganar olhares mais atentos.

A câmera do Moto G7 Play reforça aquela ideia de que, embora os celulares de entrada jamais serão tão bons quanto os topos de linha, eles chegaram a um patamar “bom o bastante”. Se alguns anos atrás fotografar momentos marcantes da vida com uma câmera de celular de entrada significava ter um registro falho, hoje isso está longe de ser verdade — pelo menos nas fotos diurnas.

Veja alguns exemplos (todas as fotos foram redimensionadas e comprimidas; nenhuma correção em cores ou qualquer outra edição foi feita):

Foto do céu feita com o Moto G7 Play.
Outro problema comum em câmeras de entrada: as cores nem sempre saem fiéis à cena real.
Foto de uma hortaliça em destaque com o fundo ensolarado e estourado.
Em situações muito difíceis, o HDR deixa a desejar. Repare o fundo ensolarado, como ficou “estourado”.
Três vasos fotografados com o Moto G7 Play.
Aqui uma boa foto: tudo equilibrado, HDR funcionando direito. Sim, elas são possíveis.
Retrato de Rodrigo Ghedin feito com o modo retrato do Moto G7 Play.
Modo retrato: não é perfeito, mas engana bem.

No software, o Moto G7 Play vem com o Android 9 “Pie” de fábrica e é um dos poucos celulares habilitados pelo Google a rodar o Bem-estar digital, conjunto de ferramentas e relatórios que ajuda a mitigar o uso em excesso do aparelho. Existem algumas leves intervenções da Motorola, como os já tradicionais movimentos manuais para abrir a câmera e ligar a lanterna, e uma lista de outras novas, todas concentradas em um app. A maioria se mostra útil. Na parte de atualizações, na data da publicação desta matéria ele estava com a penúltima disponibilizada pelo Google, a de março. Faz quase um mês que a de abril foi liberada, mas até agora, nada.

Vale a pena?

Moto G7 Play com Manual do Usuário aberto.
Foto: Rodrigo Ghedin/Manual do Usuário.

É difícil encontrar algum problema grave no Moto G7 Play capaz de desaconselhar a sua compra. Leve-se em conta, porém, que o consumidor de olho no aparelho não pode ter expectativas elevadas, como jogos 3D e realidade aumentada. O modelo mais barato da linha Moto G7 dá conta do recado para usos mundanos, como redes sociais e aplicativos de mensagens, sem deixar de lado o estilo moderno, uma bateria boa1 e uma tela legal. A câmera está longe de se destacar, e isso não é necessariamente ruim — se não ótima, ela tampouco é péssima.

A Samsung tem um quarteto de celulares para concorrer com o Moto G7 Play no mercado brasileiro. O mais direto deles é o Galaxy J6, com características bem próximas às do da Motorola e preço levemente inferior no varejo. O J6+ custa pouca coisa a mais e traz algumas vantagens, em especial os 50% extras de RAM — 3 GB — e a bateria 10% maior — 3.300 mAh. Ambos foram lançados em 2018 e atualizados para o Android 9 “Pie” recentemente, então é pouco provável que eles recebam a próxima versão do sistema, bênção que o Moto G7 Play deve receber. O novo Galaxy M10, que chegou neste mês de maio para substituir a linha J, é ainda mais caro, traz um visual moderno e se equipara às especificações do J6+, só que escorrega feio na usabilidade por não ter um sensor de impressões digitais para desbloqueio.

Apesar da concorrência feroz com os sul-coreanos, a Motorola conseguiu trazer um celular equilibrado no segmento de entrada e, com o desconto pós-lançamento do varejo, competitivo. Para o consumidor sensível a preço ou que tenha uma relação mais utilitária com o celular, o Moto G7 Play é uma ótima escolha.




Fonte: https://manualdousuario.net/
Moto G7 Play: o mais barato finalmente está bom o bastante Moto G7 Play: o mais barato finalmente está bom o bastante Reviewed by MeuSPY on maio 23, 2019 Rating: 5

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